segunda-feira, março 03, 2008

Toru Takemitsu (1930-1996)

Já me tinha apercebido, há uns anos atrás, provavelmente através de cds que acompanham algumas revistas de música clássica que habitualmente compro, da importância deste inspirado nativo de Tóquio. Finalmente, decidi avançar um pouco mais na audição da sua obra, e, adquiri um duplo de composições para orquestra, que aconselho a quem tenha curiosidade de o conhecer. E fiquei conquistada. Notam-se, de facto, como Takemitsu, ele próprio, admitia, influências de Debussy, Webern, Schoenberg, Varése, Messiaen e até um pouco de Cage. Mas tudo convertido para algo muito mais melódico, encantatório, sugerindo matizes cromáticas, com mesclas sonoras orientais, que ele usa com muita subtileza e suavidade. O tema "Spirit Garden"(1994), da referida compilação, resume bastante bem o que acabo de escrever.

Autodidacta, começa a compor aos 16 anos, só tendo recebido algumas lições de música aos 18 anos. Ao contrário do que se poderia supor, a sua música tem muito mais influências ocidentais do que orientais, porque dizia que os sons da música tradicional japonesa lhe lembravam a guerra que lhe havia sido tão dolorosa. No entanto, graças a Cage, com quem partilhava filosofias idênticas, (por ex. a noção de silêncio, para Cage, era um plenum ao invés de um vacum, ou o enfâse nos timbres entre cada acontecimento sonoro), e ao seu interesse pela prática Zen, começou a trabalhar na introdução de elementos da cultura japonesa nas suas composições. A peça "November Steps"(1967) é disso exemplo, ao juntar à orquestra dois instrumentos japoneses: o biwa e o shakuhachi de sonoridades em absoluto deslumbrantes, embora os seus sons não se misturem com o resto da orquestra, sendo tocados em alternância com esta. Só mais tarde, e tendo aprofundado entretanto, os seus estudos sobre música japonesa, Takemitsu viria a integrá-los, de facto, no conjunto orquestral (com a peça Autumn - 1973).

Por curiosidade, refiro que Stravinsky, numa sua visita ao Japão, em 1958, descobre, por acaso, Takemitsu, através da audição da peça Requiem para cordas (1957), que muito apreciou, tendo talvez sido indirectamente responsável pelo lançamento deste no mundo cultural ocidental. A água, o mar e, principalmente, os jardins históricos japoneses são os principais motivos de inspiração na obra de Toru Takemitsu, de quem se diz ser o compositor japonês mais conhecido e admirado em todo o mundo.
Para saber mais sobre o cd-duplo, consultar aqui. E o preço é uma óptima surpresa.

1 comentário:

Paulo disse...

Ouvi algumas coisas dele em CDs dessas revistas. Nunca fiquei verdadeiramente interessado, mas talvez tenha a ver com os momentos da nossa vida, que ora se prestam para umas coisas ora para outras. Talvez, ouvindo agora, me fascine.