Ler, ler bastante, ocupa grande parte do tempo da cigarrajazz. É mesmo uma espécie de bom vício na qual ela investe e reinveste, na esperança de vir a conhecer mais e cada vez mais do que a mente humana é capaz de absorver e transcrever da vida. E em matéria de descobertas recentes na literatura portuguesa, devo dizer que estou muito impressionada com: Gonçalo M. Tavares, Dulce Maria Cardoso, José Luis Peixoto e valter hugo mãe. Apetece-me falar da mais recente: Dulce M. Cardoso. Acabo de ler "Os meus sentimentos" e "Chão de pardais" e percebo porque lhe foi atribuído prémio da União Europeia para a Literatura de 2009. Escrita original, forte, magnética, visão sagaz e satírica da sociedade. Estou rendida. Aconselha-se a leitura de "Os meus sentimentos" como primeira, porque, como a escritora disse numa entrevista, a sua dificuldade em lidar com o fim dos seus livros faz com que o próximo transporte algo do anterior. E é muito engraçado descobrir um personagem do livro anterior no que se lhe segue, assim de repente, que nem faz parte da história em curso. (mal comparado, lembra a fugaz aparição da figura de Hitchcock nos seus próprios filmes). E, só para acabar esta nota, digo e afirmo que "Os meus sentimentos" é um grande livro. Parabéns à escritora.
ou o jazz como filosofia sujacente à renovação no improviso da eterna procura ou o jazz como elo de ligação entre tudo o que apetece
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domingo, janeiro 24, 2010
segunda-feira, dezembro 10, 2007

OSCAR NIEMEYER E CLARICE LISPECTOR
Oscar Niemeyer, o arquitecto de Brasília, faz 100 anos de idade no dia 15 deste mês. Soube isto através do programa "Câmara Clara", de Paula Moura Pinheiro, na RTP2, domingos à noite, ontem. Fiquei fascinada! Há tempos, vi-o num documentário, já ele ia a caminho dos 90, entrevistado e a falar e desenhar esboços de arquitectura e a filosofar sobre a vida e pensei como é fantástico poderem-se aguentar os neurónios activos e iluminados até tão provecta idade. Através de Paula Moura Pinheiro e seus convidados fico a saber que ele continua activo e criativo.
Depois de ontem, fiquei também a saber que Clarice Lispector, excelente escritora brasileira(ucraniana/judaica> 10/12/1920-09/12/1977), havia dedicado uma crónica jornalística a Brasília, que me entusiasmou ao ponto de aqui a transcrever.
BRASÍLIA
"Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo. Nós somos todos deformados pela adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se tivéssemos sido criados em primeiro lugar e depois o mundo deformado às nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília. Se eu dissesse que Brasília é bonita veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia vêem nisso uma acusação. Mas a minha insônia não é bonita nem feia, minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. É o ponto e vírgula. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério."
LISPECTOR, Clarice.
BRASÍLIA
"Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo. Nós somos todos deformados pela adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se tivéssemos sido criados em primeiro lugar e depois o mundo deformado às nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília. Se eu dissesse que Brasília é bonita veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia vêem nisso uma acusação. Mas a minha insônia não é bonita nem feia, minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. É o ponto e vírgula. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério."
LISPECTOR, Clarice.
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terça-feira, agosto 28, 2007

Numa crónica autobiográfica que escreveu para o The New York Times, em 8 de Julho passado, Murakami, um dos maiores escritores da actualidade, fala, entre outras coisas, da sua paixão pelo jazz.
Conta que o primeiro concerto de jazz a que assistiu, quando tinha 15 anos, em Kobe (Japão), o deixou rendido para sempre a este género musical. Foi com Art Blakey and The Jazz Messengers, que o jazz entrou na sua alma, tendo mesmo, mantido um bar de jazz, o Peter Cat, no Japão, durante 7 anos, antes de se dedicar à escrita literária como forma de vida.
«Que maravilhoso seria escrever como quem toca um instrumento», ou «tanto a música, como a ficção, assentam no ritmo (...) aprendi a importância do ritmo com a música, principalmente, com o jazz.(...) Depois, vem a melodia, que em literatura, significa a organização e adequação das palavras ao ritmo»...Mais à frente, escreve «Praticamente tudo o que sei sobre escrita, aprendi com a música». E fala nas influências de alguns músicos de jazz no seu trabalho: Charlie Parker, Miles Davis, T.Monk...*
Fico contente que este escritor fantástico goste tanto de jazz (parece que tem mais de 40.000 albuns! ).
* Ler mais em http://www.nytimes.com/2007/07/08/books/review/Murakami-t.html?ex=1188446400&en=5fa7d734755dafd8&ei=5070
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