domingo, janeiro 13, 2008



Uma das maiores figuras da História do Jazz. Era inevitável falar sobre ele (ou não fosse um dos meus favoritos...)

ART BLAKEY (1919-1990)
Como muitos músicos de jazz, Art Blakey começou a sua carreira na igreja. Sendo a sua família devota da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Art rapidamente se tornou um mestre tanto no piano como na Bíblia.
Mas a sua carreira como pianista teve uma abrupta e radical interrupção quando o dono do bar onde então tocava - o Democratic Club - em Pittsburgh, lhe ordenou que saltasse do piano para a bateria.
Art, ainda adolescente, viu o seu lugar de pianista ser-lhe usurpado pelo então ainda muito jovem Erroll Garner, tão talhado para o piano como Art viria mais tarde a sê-lo para a bateria. Esta reviravolta na sua carreira foi uma benção para Art, que, durante seis décadas, viria a influenciar e impulsionar a carreira de inúmeros outros músicos de jazz.
Enquanto jovem, Art actuou sob a tutela do legendário baterista e director de orquestra, Chick Webb. Em 1937, Art regressou a Pittsburgh, formando a sua própria banda, ao lado da pianista Mary Lou Williams, sob cujo nome a banda actuou.
Em 1939, encetou uma digressão de três anos com Fletcher Henderson. Depois de um ano em Boston, no Tic Toc Club, juntou-se ao grande Billy Eckstine, tendo actuado, entre outros, com Charlie Parker, Dizzy Gillespie e Sarah Vaughan.
Em 1948, Art disse aos repórteres que tinha visitado África, onde aprendeu percussão polirítmica e foi apresentado ao islamismo, assumindo o nome de Abdullah Ibn Buhaina. Em finais dos anos 40, Art cria a sua primeira formação dos Jazz Messengers, uma banda de 17 elementos.
Após uma breve actuação com Buddy DeFranco, Art junta-se, em 1954, ao pianista Horace Silver, ao altoista Lou Donaldson, ao trompetista Clifford Brown e ao contrabaixista Curly Russell, e gravam um "live" at Birdland, para a Blue Note Records. No ano seguinte, Art e Horace Silver fundam o quinteto que será os Jazz Messengers. Em 1956, Horace Silver deixa o grupo para formar o seu próprio, ficando os Jazz Messengers para Art Blakey.
A sua batida vigorosa e enérgica, de ritmo quase tribal, com constante utilização dos pratos superiores da bateria, era facilmente identificável e permaneceu uma constante ao longo dos seus 35 anos de Jazz Messengers. O que mudava era o incontável número de músicos talentosos que com ele tocaram, muitos dos quais sairam dali para formarem os seus próprios grupos de jazz.
Nos primeiros anos, figuras como Clifford Brown, Hank Mobley e Jackie McLean integraram a banda. Em 1959, o saxofonista tenor Benny Golson juntou-se ao quinteto, tendo recrutado o que permaneceria uma das formações mais duradouras dos Jazz Messengers: O saxofonista Wayne Shorter, o trompetista Lee Morgan, o pianista Bobby Timmons e o baixista Jymmie Merritt.
Os temas produzidos entre 1957 e princípios dos anos sessenta tornaram-se imagem de marca dos Messengers - incluindo "Moanin" de Timmons, "Along came Betty" e "Blues March" de Golson e "Ping Pong" de Shorter.
Por esta altura, os Messengers eram um grupo incontornável nos circuitos de jazz e começaram a gravar para a Blue Note Records. Encetaram tournées pela Europa, com algumas escapadelas até África e tornaram-se o primeiro grupo americano de jazz a tocar no Japão, para audiências japonesas. Esta primeira digressão pelo Japão constituiu um ponto alto na vida do grupo. No aeroporto de Tóquio, o grupo foi saudado por centenas de fans, enquanto se ouvia "Blues March" nos altifalantes e a sua visita foi difundida pela televisão nacional.
Em 1961, o trombonista Curtis Fuller transformou os Messengers num sexteto, dando-lhes um formato que lhes permitia incorporar o som de uma orquestra no seu repertório hard-bop. Ao longo dos anos 60, os Messengers permaneceram na crista da onda nos circuitos do jazz, integrando grandes nomes,tais como Cedar Walton, Chuck Mangione, Keith Jarrett, Reggie Workman, Lucky Thompson e John Hicks. Na década seguinte, mantiveram a sua força, com menos gravações mas não menos energia.
Numa altura em que muitos músicos de jazz se viravam para experiências electrónicas e de fusão com a Pop, os Messengers mantiveram-se fiéis ao jazz puro.
Esta postura de fidelidade ao purismo deixara Art em posição de vantagem quando do ressurgimento do gosto pelo jazz nos anos 80. Trabalhou com o trompetista Valery Ponomarev, o sax tenor Billy Pierce, o sax alto Bobby Watson e o pianista James Williams. A entrada do trompetista Wynton Marsalis em cena, em 1980, teve também um papel de não menos importância neste ressurgimento.
Ao longo dos anos 80, e até à sua morte, em 1990, Art manteve a integridade do projecto, continuando a revelar músicos como os trompetistas Wallace Rooney e Terence Blanchard, pianistas como Mulgrew Miller e Donald Brown, baixistas como Peter Washington e Lonnie Plaxico, entre outros.
Art morreu aos 71 anos, depois de uma carreira que percorreu seis das melhores décadas do jazz, permanecendo para sempre na memória de todos os que com ele trabalharam, como uma enorme energia inspiradora, tendo influenciado, motivado e impulsionado muitos dos maiores músicos da actualidade.
(Do "Album of the Year"1981,MCA Records, a faixa "In case you missed it" (Robert Watson), com Art Blakey na bateria, Winton Marsalis no trompete, Bill Pierce no sax tenor, Robert Watson no sax alto, James Williams no piano e Charles Fambrough no baixo) .
Da dúzia de albuns que possuo liderados por este mestre, a escolha foi difícil e embora não mostre Art na sua pujança inicial, principalmente nos anos 50 e 60 do século passado, é um dos que mais me agrada pela qualidade e homogeneidade de todo o grupo e pelos temas escolhidos. Gostaria de ter colocado aqui outras faixas do mesmo, tais como "Ms.B.C.", composta pela mulher de Robert Watson, Pamela Watson em homenagem a Betty Carter, ou "Soulful Mister Timmons", de James Williams, em homenagem ao exMessengers Bobby Timmons , grande pianista e compositor de alguns dos temas mais famosos dos Jazz Messengers (ver link), mas, por motivos óbvios, fico-me pela sugestão. A não perder também a interpretação de Art no tema de Dizzy Gillespie, "A night in Tunisia", no album "Theory of Art"(1957) - os primeiros dois minutos são um absoluto exemplo do que era, realmente, a arte de Blakey, e a entrada dos sopros em cena é qualquer coisa de extraordinário.