terça-feira, dezembro 30, 2008

R.I.P. Freddie Hubbard (1938-2008)

(Excerto do Festival de Jazz do Mt. Fuji, em 1987 - com James Spaulding, sax alto; Renee Rosnes, piano; Kenny Davis, contrabaixo; Ralph Peterson, bateria.)
Conforme se previa, Freddie Hubbard não resistiu ao ataque cardíaco que sofrera nos primeiros dias de Dezembro. A sua saúde já há muito vinha debilitando este ilustre trompetista, que relembro essencialmente com Art Blakey and the Jazz Messengers e, ao longo da sua carreira, em solos de enorme força e criatividade.
Enfim, mais uma triste notícia.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

sábado, dezembro 20, 2008

Já estou a pensar em Abril

Atenção ao que aí vem em Abril, dia 26 . Na programação da Casa da Música (Porto), sob o tema "Música e Revolução", "The Inside Songs of Curtis Mayfield". Estou determinada a não perder este acontecimento. Amiri Baraka, o poeta, o diseur. Leena Conquest, voz (e dança, segundo consta no programa). William Parker no contrabaixo e arranjos, Hamid Drake na bateria e ainda Lewis Barnes, trompete, Darryl Foster e Sabir Mateen, saxofones e Dave Burrell no piano. Pois é, lá vou "matar" saudades do Porto e conhecer, finalmente (espero) a sua Casa da Música. Curtis Mayfield (1942-1999), foi um músico funky, com uma voz única, que, para além de compositor, inseriu nas suas músicas letras de carácter socialmente interventivo, dando continuidade aos espíritos Malcolm X e Martin Luther King, na denúncia de situações de racismo e abuso de direitos humanos na sociedade norte-americana. Também dentro deste mesmo espírito, Baraka, tem gritado, nos seus poemas, essas mesmas ideias "revolucionárias", acompanhado, regra geral, por músicos da estirpe de William Parker ou de Hamid Drake. Ora, num momento em que se coloca no podium do poder norte-americano o homem de quem se espera a solução para muitos problemas sociais, este concerto terá um sentido de revisão histórica. E a expressão musical deste grupo de músicos de quem tanto gosto deixa-me antever qualquer coisa de imperdível. Vou ver se não falho.

sábado, dezembro 13, 2008

Brad Mehldau:River Man


(Cont.)

Sobre esta composição que, conforme fica aqui patenteado, me deslumbrou pela sua beleza e simplicidade, direi apenas que foi composta em finais da década de 60 do século passado, e faz parte do album "Five Leaves Left"(1969), de Nick Drake, um rapaz que é hoje considerado um compositor-referência por muito boa gente. Morreu novo (26 anos), mas o pouco tempo que viveu foi suficiente para deixar obra feita de beleza eterna. Entre os que lhe reconhecem esse mérito encontra-se um dos maiores pianistas de jazz contemporâneos: Brad Mehldau. Os vídeos YouTube que aqui ficam não permitem uma audição perfeita mas servem como registo de um bom momento ao vivo de Mehldau e seu trio na interpretação deste tema, que se pode também ouvir no seu CD "The Art of The Trio III-Songs"(1998).

quinta-feira, dezembro 11, 2008

River Man (Nick Drake) por Andy Bey


Betty came by on her way
Said she had a word to say
About things today
And fallen leaves.

Said she hadn't heard the news
Hadn't had the time to choose
A way to lose
But she believes.

Going to see the river man
Going to tell him all I can
About the plan
For lilac time.

If he tells me all he knows
About the way his river flows
And all night shows
In summertime.

Betty said she prayed today
For the sky to blow away
Or maybe stay
She wasn't sure.

For when she thought of summer rain
Calling for her mind again
She lost the pain
And stayed for more.

Going to see the river man
Going to tell him all I can
About the ban
On feeling free.

If he tells me all he knows
About the way his river flows
I don't suppose
It's meant for me.

Oh, how they come and go
Oh, how they come and go

Homenagem provisória a Manoel de Oliveira



Parabéns, Manoel de Oliveira! E siga os conselhos deste personagem de outros mundos...

segunda-feira, novembro 24, 2008

Joanne Woodward e Tennessee Williams

Joanne Woodward - A viúva de Paul Newman, que ele considerava a melhor actriz do Mundo é, não tenho dúvidas, se não a melhor, das melhores. Vi-a há poucos dias no filme realizado pelo seu marido em 1987, uma peça de Tennessee Williams - The Glass Menagerie - em que contracena com John Malkovich e Karen Allen e fiquei abismada com a sua interpretação. A peça, ou melhor, a história fala-nos de uma mãe super dominadora (Woodward) que não deixa "respirar" os seus filhos (Malkovich e Allen), ambos maiores de idade, que ainda vivem com ela, numa relação de sufoco e alguma dependência, embora aqui não seja claro quem depende mais de quem. O parco sustento da casa é assegurado pelo filho,na falta do pai que fugiu de casa há 16 anos. A filha, por timidez e complexos de inferioridade com origem numa pequena deficiência física (é coxa), não consegue uma de duas coisas que sua mãe espera que faça: Casar e arranjar marido que a sustente ou arranjar um emprego com a mesma finalidade. E tudo gira à volta disto e do domínio materno traduzido numa preocupação exacerbada sobre tudo o que lhes diz respeito. Como se pode imaginar, o papel da mãe é de uma força e de uma omnipresença colossais, que exige da sua intérprete um desempenho muito laborioso e intenso do ponto de vista emocional. Aliás, todas as personagens são possuidoras de uma intensidade dramática muito forte, debatendo-se entre o amor que têm pela mãe e o seu negativo pela castração psicológica que ela lhes provoca. Joanne Wooward, que recebeu em 1958 o Óscar da Academia de Hollywood, pelo seu desempenho em The Three Faces of Eve, que eu ainda não vi mas que fiquei com ansiosa por ver, parece-me ser perita em desenvolver e revelar o lado psicológico mais profundo das personagens que interpreta. Ela consegue percorrer, com naturalidade, todas as matizes possíveis de representação de personalidades complexas, atormentadas, demenciais. E o curioso é que quase se dispensaria a visualização da sua linguagem corporal. Bastaria filmar a facial.
Uma enorme actriz. Acho que ver este filme foi o clique para me recolocar na posição de espectadora voraz da 7ª.Arte, como quando tinha vinte anos e não perdia quase nada do que por aí chegava de mais interessante: Robert Altman, Roman Polanski, Marta Meszaros, Andrzej Wajda, Fellini, Truffaut, Ingmar Bergman, e nos meus trinta: Almodovar, Lynch, Mamet, Carpenter, e muitos outros. Tantos percursos mentais, tanto deslumbramento, tanto acrescento à minha vida. Pois é. O Cinema. Um dia farei uma digressão retroactiva e partilharei talvez algumas considerações sobre o assunto com quem por aqui passar. Sobre o filme que me fez redescobrir Joanne Woodward, há muito mais a dizer. O retrato muito presente do grande ausente, pendurado numa parede e reflectido no espelho da outra que com ela faz um ângulo de 90º. Ele, o marido e pai, continua a partilhar daquele dia-a-dia, mas sem assumir qualquer responsabilidade. O seu sorriso não engana - ele libertou-se daquela espécie de prisão. O retrato, ou melhor, a foto está cómica. É o sentido de humor de Paul Newman no seu pleno. A colecção de miniaturas de cristal que constitue o património pessoal e íntimo da filha, cavalinhos de entre os quais o unicórnio, por ser diferente, é o seu preferido, reflecte a fragilidade da sua relação com o Mundo. Aqui teria de se avaliar a recorrência deste tipo de densidade trágica nas personagens de Tennessee Williams que, no fundo, não é mais do que a encenação das nossas inquietudes, das nossas desilusões, dos nossos medos, do nosso resíduo pré-social. Apenas os homens desta peça se vão libertar, mas também eles sofrerão uma libertação frágil e terão momentos de queda livre no abismo doloroso do passado. Joanne Woodward e Paul Newman. É preciso que uma estrela se apague para que outra se revele mais intensa? Não neste caso!

terça-feira, novembro 11, 2008

Yma Sumac (1922-2008)


Desaparecida também este mês, Yma Sumac, cantora peruana com voz que abarcava até perto de cinco oitavas, foi um prodígio que também me apraz homenagear. A sua voz, o seu exotismo e as capas dos seus discos mais antigos fazem parte do património universal dos legados prazenteiros desta vida. Para ouvir muito de vez em quando.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Miriam Makeba (1932-2008)


Miriam Makeba (Mama Africa) - Khawuleza 1966
(smallstillvoice)

Morreu Miriam Makeba, talvez a mais conhecida cantora Sul-Africana de sempre. Uma mulher que além dos seus dotes e bom gosto musicais, empenhou a sua vida na defesa dos direitos humanos, lutando contra o apartheid na sua terra natal, África do Sul e pelos direitos civis nos diversos países por onde passou. Foi uma personalidade extraordinária que merece grandes homenagens. A sua canção mais conhecida, "Pata, Pata", é um clássico irresistível que o mundo nunca vai esquecer.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Yes, Barack Obama! Yes you can!


In fact, you already did it. You already changed the World. May your God never let you down.

Que me desculpem os milhões de portugueses que lêem o meu blogue, mas isto teve de ser escrito em inglês. Quer se queira quer não, os Estados Unidos da América têm tido uma enorme influência no planeta Terra, em geral, e no mundo ocidental em particular. Sempre muito criticados e apupados, mas, ao mesmo tempo, um exemplo de congregação e agregação de tipos sociais tão diversos que seria um milagre não existirem as respectivas margens belicistas e agitadoras ou desalento e protesto nos grupos sociais mais desfavorecidos. A invasão do Iraque, as carências da população em matéria de assistência à saúde e a instalação de dúvidas quanto ao modelo económico em vigor são os três pontos principais que Obama terá de enfrentar e procurar resolver da melhor forma. É isso que se espera dele, mas, acima de tudo, a sua imagem e as suas raízes representam, para já, um símbolo de união e reconciliação inter-racial com cariz universal. E é isso que inaugura um novo capítulo na História do seu país e na forma como o Mundo vai olhar os Estados Unidos da América. Hoje sinto-me "Born in the USA" (copyrights Bruce Springsteen).

segunda-feira, outubro 13, 2008

o Subprime e a crise


The Last Laugh - George Parr - Subprime - subtitulos
Enviado por erioluk

(Com legendas em espanhol). Não resisto a colocar este vídeo, um excerto do programa "Bremner, Bird and Fortune", do canal britânico Channel Four - onde se entrevista George Parr, personagem de ficção especialista em opinião sobre a actualidade, no caso a crise financeira mundial.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Foi uma Festa!


Ontem, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, viveu-se um momento alto na cena jazz em Portugal: A Grande Sheila Jordan, a história do jazz em pessoa, festejou com os que tiveram a glória de estar presentes, o 5º. aniversário do blogue JNPDI!, como já aqui tinha anunciado. Foi uma festa! Sheila canta como respira (frase batida mas que aqui se aplica com absoluta verdade). Uma voz de uma limpidez e jovialidade incríveis. Um improviso sabiamente trabalhado e quase sempre surpreendente. Uma mestra, uma comunicadora calorosa e terna, uma senhora sempre sorridente, divertida, e com muita classe. Dirigiu os músicos que a acompanharam, todos eles portugueses, dos nossos melhores, saídos da Escola do Hot Clube de Portugal e já amplamente reconhecidos por estes lados. Destaco o pianista, Filipe Melo, para mim, uma revelação. Bernardo Moreira manteve o seu habitual nível de competência, Bruno Pedroso também não desapontou. Quanto a João Moreira, no princípio um pouco apagado, mostrou ser, afinal, um excelente trompetista, subtil, sensível, criador de sons por vezes muito belos, um razoável interlocutor para Sheila.
E depois, as Marias. A Maria Viana, de quem sou fan desde sempre, e que, mais uma vez, esteve à altura das minhas expectativas. Para mim, das melhores cantoras de jazz que este país alguma vez teve e, felizmente, continua a ter. Quanto a Maria João, no seu registo étnico-progressista-experimentalista, para além do jazz, na direcção do centro da terra e da alma enquanto corpo, com os seus tiques tribais e a sua exuberância intrínseca, foi igual a ela mesma, nem mais, nem menos. Sheila Jordan surpreendeu-se com ela e pela forma desinibida e calorosa com que a abordou, em palco. Tanto Maria Viana como Maria João cantaram em dueto com S.Jordan, em momentos de perfeita sintonia e beleza. Parabéns ao João Moreira dos Santos, que tão bem soube "orquestrar" esta suite para nosso prazer. Repito: Foi um Festa!

sábado, setembro 27, 2008

Goodbye Paul


(runner4peace)
Menos um anjo na terra. Lindo por dentro e por fora. Um ídolo à antiga. Já enxuguei as lágrimas, pronto.

terça-feira, setembro 16, 2008

Sheila Jordan vem a Portugal


Kurt Elling com Sheila Jordan no New Morning club em Paris, 18 Outubro de 2006.
(TheOlive31)

Sheila Jordan vem a Portugal, dia um de Outubro, Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, Lisboa, graças ao convite de João Moreira dos Santos (JNPDI), para celebrar o aniversário do seu blogue (Parabéns! Pelo aniversário e pela escolha). A sua vinda é um acontecimento a que não podia deixar de referir-me, tratando-se de artista com semelhante estatura no jazz. Para mais informação, inclusivé biográfica, consultar http://jnpdi.blogspot.com/

sábado, agosto 30, 2008

Festival jazz.pt / 4,5,6 e 11, 12, 13 de Setembro no Hot Club de Portugal


Para comemorar o terceiro ano de edições da "jazz.pt – revista bimestral de Jazz", única publicação periódica especializada em jazz editada em Portugal, o JACC (Jazz ao Centro Clube), em parceria com o Hot Clube de Portugal (que celebra o seu 60º aniversário), organiza a primeira edição do "Festival jazz.pt".
Agendado para os dois primeiros fins de semana de Setembro, este evento propõe dois concertos por noite (excepto no dia de encerramento, para o qual estão programadas três actuações), no bar e no jardim do Hot. Serão lançados quatro novos discos de formações nacionais.

Consultar programa em http://www.jazz.pt/festival

quinta-feira, julho 31, 2008

Jazz em Agosto


(Re)Começa já amanhã um dos mais refrescantes acontecimentos musicais deste Verão: O Jazz em Agosto, na Fundação Gulbenkian de Lisboa. Desta vez aplicado em dar a conhecer o que se faz pelo Japão, e o que o Japão faz com a Europa em matéria de produção jazz, para além de visitas já tradicionais por estes sítios, como John Zorn e Fred Frith (não sou grande fã, confesso) ou Sylvie Courvoisier (gosto muito). A Rui Neves se deve a escolha e a manutenção deste acontecimento anual que agora celebra o seu 25º. aniversário, mérito incontestável também pela ousadia das propostas apresentadas nestes últimos anos.

segunda-feira, julho 07, 2008

Oum Kalsoum

A cantora de quem Omar Sharif, seu conterrâneo, um dia disse: «Sem Oum Kalsoum, uma viagem pelo Oriente perderia a sua graça». (tradução livre...«en Orient, une journée sans Oum Kalsoum n’aurait plus de couleur ».)

Ausências prolongadas dão nisto: Estados mentais diversos. Mas o Jazz está sempre presente. Ainda agora descobri uma rádio com algum interesse: ejazzradio e não vale a pena referir a pujança de acontecimentos relacionados com o tema por esse país fora, porque Julho e Agosto estão com oferta de se lhe tirar o chapéu. E é bom que assim seja, embora o Jazz tenha mais sabor em ambiente íntimo, de clube (pode ser o Hot de Portugal ou o Village Vanguard de Nova Iorque), mas isso são quimeras, quando se pretende a sua fruição democrática e arejada (que também subscrevo, mas noutra onda).
E há muito assunto interessante no ar. Mas isso vai ser, talvez, depois de eu jantar. Um destes dias...

segunda-feira, junho 16, 2008

Esbjorn Svensson (1964-2008)


Estou em estado de choque! Um dos músicos mais interessantes do Jazz europeu actual morreu no sábado passado. Acabo de ler a notícia no blogue de João Moreira dos Santos: Jazz no país do improviso e estou triste, muito triste. Tinha 44 anos e deixa-nos uma obra das mais bonitas, estimulantes e inspiradoras de tudo o que se tem feito nos últimos anos.

O pianista sueco Esbjorn Svensson, cuja fusão de lirismo melódico com sonoridades inspiradas no rock encontraram terreno fértil no jazz moderno, morreu neste fim de semana num acidente ocorrido durante um mergulho nas proximidades de Estocolmo. O músico tinha 44 anos e deixa esposa e dois filhos.Svensson e sua banda, o Esbjorn Svensson Trio, também conhecido como EST, foram mundialmente aclamados e premiados pelo álbum "Strange Place for Snow", de 2002, nove anos depois do lançamento de seu primeiro disco, ganhando inclusive o Guinness Jazz no European Awards. O grupo também recebeu o prémio de melhor artista internacional no BBC Jazz Awards de 2003. Dois anos mais tarde, o trio tornou-se a primeira banda europeia de jazz a sair na capa da revista americana Downbeat, especializada no estilo musical.O lançamento do 12º álbum do EST, "Leukocyte", está marcado para setembro. Svensson morreu no sábado em num acidente ocorrido durante um mergulho perto de uma pequena ilha nos arredores de Estocolmo, a capital da Suécia, disse Burkhard Hopper, empresário da banda. A polícia realizará uma investigação de rotina do aparente acidente, prosseguiu ele. (sic "A TARDE online")

sábado, maio 31, 2008

Amy Winehouse no Rock in Rio

Ontem decidi ver, refastelada no meu sofá, o concerto da famosa "diva" pop Amy Winehouse, em directo, do Rock in Rio pela Sic Radical. Tive curiosidade. Havia dúvidas se ela viria. Depois de muito suspense e quase desespero dos 90.000 fans presentes ao vivo, de muito anúncio por parte da locutora de serviço: «ela já saiu do camarim e dirige-se para o palco», ou, cinco minutos depois, «ela voltou a fechar-se no camarim, exigindo que desimpedissem por completo o corredor de acesso ao palco», a que se seguiu um enorme período sem notícias, voltando a criar-se novo suspense, desta vez mais esmorecido que os anteriores. Isto durante aproximadamente 35 minutos. Quando, arrancada aos seus torpores ou lá o que era, ela decide aparecer, não dava para acreditar - foi entrando no palco, cambaleante, de copo na mão, e, quando conseguiu ouvir-se-lhe algum som, foi um murmúrio rouco, informe, um balbuciar incompreensível, um desatino a tentar segurar no microfone, até que um dos membros da banda que a acompanhava lho tirou da mão e o colocou no respectivo suporte. Aí começou o martírio. Quase sem voz, entradas atrasadas, desafinação, tentou tocar uma guitarra que alguém lhe retirou, com óbvios receios, continuou a bebericar sempre que havia uma pausa, comeu uma tablete de qualquer coisa, enquanto "cantava", sempre a cambalear, caiu, levantou-se e disse: «se isto tivesse acontecido a Lenny Kravitz, ele teria ficado envergonhado, mas eu não tenho vergonha». Enfim, isto é apenas uma pálida descrição do que se passou neste concerto. E no entanto, não é que ela conseguiu, ainda assim, dar um espectáculo magnetizante, em termos musicais ? Quase afónica e embriagada ou drogada (ou ambas as coisas), Amy teve um suporte musical excelente, instrumental e vocal (a banda e o coro), que a foi literalmente amparando, conseguindo que ela cantasse, mesmo com as limitações descritas. Um espectáculo inacreditável. Acabou por pedir desculpa ao público e dizer que devia ter cancelado o concerto. Mas o público desculpou-a. Pois se até teve dúvidas que ela aparecesse...E ele queria muito vê-la. 90.000 pessoas em silêncio, suspensas do que se estava a passar, de tal modo que ela lhes pediu, por mais de uma vez, «make some noise», e o público correspondeu, sempre positivamente. Não há dúvida que ela tem qualquer coisa - a sua imagem, a voz, o estilo, tudo a lembrar música anos 60/70. Qualquer coisa de Janis Joplis, de Dusty Springfield, de Billie Holiday. Sim, se abstrairmos da triste realidade, ela poderia e deveria ter uma carreira brilhante. Penso que, apesar de tudo e por causa de, ela já ficou registada em lugar destacado na história da pop.

quinta-feira, maio 22, 2008

Só para que conste


Está a decorrer, desde o dia 17 de Abril até 15 de Setembro, no MOMA (Museum of Modern Art), em Nova Iorque, uma exibição de filmes que têm o Jazz como banda sonora (Jazz Score). Consultar aqui.
Fica aqui um piscar de olhos à nossa Cinemateca...E que tal um ciclo na RTP2, em horário decente, isto é, antes da meia-noite? ;)

terça-feira, maio 20, 2008

Erika Calesini ou as bicicletas


Erika Calesini (Cattolica, 1974), artista plástica italiana presente no Salão do Móvel, em Milão, com o que pode ser descrito como escultura sobre tela. Enormes telas com bicicletas colocadas entre sofás e camas. No seu site podemos apreciar as suas diversas variações sobre o tema, muito interessantes e apelativas, também pelo equilíbrio das cores utilizadas ou pela função inesperada, como é o caso de bicicleta transformada em candeeiro, também presente na referida exposição. Pode-se dizer que se trata de uma alegoria à bicicleta, da sua elevação ao podium das artes, consagração do objecto já desprovido da sua capacidade, mas não do seu carácter inspirador de uma vida calma, ecológica, e saudável. Adoro bicicletas, por tudo o que representam e ainda pelo seu lado poético e até cinematográfico - quem não se lembra de Tati, ou, mais recentemente, de Les Triplettes de Belleville, por exemplo? Tenho de comprar uma, um dia destes. Já tenho saudades.
Tati "Jour de Fête" (1949)
Les Triplettes

segunda-feira, maio 05, 2008

Meredith's impermanence


E por estes dias tenho andado a ouvir o último de Meredith Monk - Impermanence (ECM). Não me foi possível, com grande pena minha, assistir ao seu recente concerto no CCB, mas tenho-me deliciado com o CD. Uma obra prima. Acho que ela está cada vez melhor.

sábado, maio 03, 2008

Patti Smith's dream of life


Sexta-Feira, 2 de Maio, Teatro Maria Matos. 21h30m - lotação esgotada, para o documentário "de longa metragem" de Steven Sebring já aqui referido a propósito do Sundance Film Festival. Patti Smith de alma exposta. Portas abertas para a sua rotina, arte-vida-arte. Bom documentário, que nos deixa conhecer melhor esta rocker-diseuse que queria ser cantora de ópera, ou, simplesmente, a mulher apaixonada de Fred "Sonic" Smith, a mãe de seus filhos, que a adoram e que são, já, seus parceiros de palco. Um retrato que confirma todas as razões para se considerar esta mulher uma criatura muito especial, como já referi anteriormente neste blogue, para quem todos os elogios estarão sempre aquém do que ela merece. Gostei do documentário. Sebring soube captar o essencial.

sábado, abril 26, 2008

A cigarra light tem andado a ouvir:


Marilyn Mazur e Jan Garbarek - Elixir
Gosto muito desta obra, a última que adquiri para a minha colecção de cds. E aconselho. Tem sons magníficos que inter-agem connosco como muitos anxiolíticos gostariam de conseguir - é uma paz, uma serenidade, um conforto geral.
Mas para não se ficar demasiado acomodado convém, de vez em quando, alternar com:
Erykah Badu - New Amerikah

Uma cantora que ficou sempre naquele núcleo de coisas que entram em ligação indirecta com a terra, com as coisas da vida, com a nossa carne.
DeeDee Bridgewater - Malian Project - Red Earth

Embora não sendo grande apreciadora de Dee Dee, sou fan de música do Mali e acho este Malian project um obra de mérito. Tenho o cd+dvd e só de pois de ver o dvd soube apreciar,confesso, o quanto Dee Dee se esforçou e se envolveu na feitura deste registo. Acho o dvd estupendo e a música que resultou deste percurso de pesquisa e reencontro, um excelente resultado. Dee Dee, neste vídeo, fica na sombra, do outro lado do vidro, e dá lugar a Oumou Sangare, a diva maliniana que com ela faz duo nesta canção.

sexta-feira, abril 18, 2008

DIAS DA MÚSICA EM BELÉM (LISBOA)

Começa a hoje, às 20 horas, no Centro Cultural de Belém, CCB, em Lisboa, a ex-festa da música, hoje dias da música, menos gloriosos mas igualmente a não perder, nem que seja para se assistir a um só espectáculo. Este ano, não se trata só de música clássica, mas também de Jazz, a menina dos nossos olhos. E com o nosso mais fino produto nacional: Bernardo Sassetti (piano), Carlos Barreto (contrabaixo), Alexandre Frazão (bateria), Mário Laginha (piano), Bernardo Moreira (contrabaixo), António Pinho Vargas (piano), Zé Nogueira (saxofone) e Carlos Zíngaro (violino), distribuídos por grupos e espectáculos distintos . É de ir e apoiar. Temos também a Olga Prats (piano) em Astor Piazzolla (Tango) e isto para não falar do lado da clássica, também com bons nomes nacionais.
Quanto aos nomes estrangeiros, destaco Ron Horton (trompete), Julien Arguelles (Saxofone), Scott Fields e Elliot Sharp (guitarra acústica).
Ao todo 6 espectáculos de Jazz, num todo de 69. É pouco, mas já é um começo. Porque fico satisfeita? Porque, pelo preço de 6€, é dar oportunidade a todos os que gostam de música de a ouvir em condições acústicas regra geral boas, e em instalações adequadas. É de ir e apoiar, para que isto possa continuar. A Música é um bem essencial e deve chegar a todos em "excelentes" condições. E para tal, nada como assistir à sua execução ao vivo num espaço que a preserve de interferências ou objectos intermediários de resultados catastróficos. Sábado ou Domingo lá estarei, se as chuvas não forem dilúvio.

quinta-feira, abril 10, 2008

terça-feira, abril 08, 2008

Ooleya Mint Amartichitt




Ooleya Mint Amartichitt, cantora griot nascida na tribo de antepassados nómadas Ulâd Mubarâk, na Mauritânia, África Ocidental, foi a escolhida para me acompanhar neste dia chuvoso e cinzento, em sintonia com a fotografia que a National Geographic teve a amabilidade de me ceder e que forra o tampodaminhasecretáriavirtual (desktop). Ambos se conjugam para iluminar os meus pensamentos, fazendo-me sonhar com desertos onde, provavelmente, nunca porei os pés. O seu CD "Praise songs", o único que lhe conheço, mostra-me a beleza e a força desta voz que perpetua sons ancestrais desta zona de África.



Este vídeo faz jus à cantora. Por isso, aqui fica como testemunho das coisas belas do planeta Terra.

quinta-feira, abril 03, 2008

&etc

Um destes serões fui surpreendida por um documentário no Canal 2 da RTP sobre a editora &etc e seu fundador, seu coadjuvador e alguns escritores que com ela têm editado, convidados a sobre ela dizerem o que lhes vai no coração. Não vi tudo desde o princípio mas acho que vi o essencial. Não há ninguém com vícios de ler em português que não conheça, pelo menos por fora, aqueles livrinhos quadrados com umas capas que são do melhor grafismo que se pode por aí encontrar. O papel utilizado é encorpado, tipo entre o reciclado e o vergé, muito apelativo para quem também gosta do livro-coisa-física. O único senão era, antigamente, o preço. Isto do ponto de vista de uma estudante sem cheta no bolso, há trinta anos atrás. Passada a época da penúria, lá adquiri alguns volumes que muito prezo e que fui a correr rever, quando do documentário.

Ao que parece a &etc, criada em 1973, por Víctor Silva Tavares, nunca faz reedições dos seus livros («por uma questão de princípio»), não tem fins lucrativos, edita autores desconhecidos e as suas tiragens são muito pequenas. Claro que alguns destes autores são hoje bem conhecidos e reconhecidos: Alberto Pimenta, Adília Lopes, o falecido João César Monteiro ou Eduarda Dionísio, por exemplo.

A Sede da editora fica numa sub-cave da Rua da Emenda, em Lisboa, o subterrâneo, como lhe chama V. S. Tavares (e o nome da empresa é: Edições culturais do subterrâneo), e tem uma porta magnífica, como se pôde ver no documentário. A impressão é, regra geral, feita, tanto quanto percebi, numa antiga tipografia com entrada pela Rua da Alegria, o que também não deixa de ser fascinante, pela sua localização carismática, vizinha do jazz, da revista e do luxuriante jardim botânico.
O jornal "O Público" publicou, há cerca de um ano atrás, um artigo muito interessante sobre Victor Silva Tavares, que poderá ser lido aqui e que mostra como só uma pessoa como ele poderia levar por diante este projecto contra-corrente e marginal, feito de ideais e sonhos, quimeras e outras coisas que tais, tudo menos dinheiro. Claro que teve mecenato, mas isso é o que é devido ao artista pela ordem justa das coisas.
Não consegui ligações cibernéticas com o documentário (que adorava ter para rever e compro se por aí aparecer), mas deixo aqui o grande final do programa "Câmara Clara" de Paula Moura Pinheiro, onde é possível ver, para além do artista editor, um dos seus mais queridos editados, Alberto Pimenta, em momentos de grandiloquência palativa.

terça-feira, março 25, 2008

O cão, o gato e o rato



Milagre!??? O cão tem o olhar de quem está a viver algo que não é deste mundo, mas antes do Além ou da Terceira Dimensão enquanto implora, por favor "tirem-me deste filme", agindo como se levasse às costas umas toneladas de peso ou o peso de uma grande responsabilidade. O gato deve-se ter esquecido do que transporta, mas está-lhe a saber bem o quentinho nas costas que lhe vem do rato, somado ao que lhe vem do cão e, quanto ao rato, bom, o rato só pode estar paralisado de terror... A banda sonora, essa sim, está muito bem metida, a exprimir o espanto, a enfatizar o grande momento, e a transmitir-nos a esperança de que, tal como o maestro israelita, Daniel Barenboim, conseguiu, é possível juntar israelitas e palestinianos numa mesma orquestra e conseguir dar concertos de Wagner em Jerusalém, sobrevivendo ao evento.

domingo, março 23, 2008

A Páscoa com Fred Astaire



PÁSCOA FELIZ! Para todos os que passarem por aqui e também para os que não passarem, claro. E para abater os kilitos extra, ganhos com as amêndoas e os folares, é só tentar imitar o Fred. Vejam como era elegante. Agora, acho que o rapazinho lhe devia ter cedido o coelho, como paga pela espantosa performance.

sexta-feira, março 21, 2008

'You Must Believe In Spring' - uma lição de jazz ao piano


(jazz2511)

No dia Mundial da Poesia

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

(in "Poesia: Ó Véspera do Prodígio!", de Natália Correia, 1990)

quarta-feira, março 19, 2008

terça-feira, março 18, 2008

William Parker e os Olmecas




Dei comigo a matar saudades de um álbum que já há algum tempo faz parte da minha colecção - "Long Hidden: The Olmec Series", de William Parker (AUM036) e que, acho, merece ser aqui referenciado. William Parker, já por mim mencionado neste blogue, é um músico com uma amplitude musical do tamanho do Mundo e uma visão do tamanho do Universo, passado, presente e futuro. Basta apreciar a sua vasta produção musical, para se perceber a sua constante labuta na interligação das várias correntes musicais, numa captação de energia e espiritualidade de ordens tão diversas, com resultados tão espantosos como este exemplo que hoje aqui deixo. Como é possível juntar contrabaixo, saxofones, percussão, acordeão, doson ngoni, congas, tímbales, sons do Mali e dos Olmecas (antepassados dos Maias e dos Astecas), sem trair as suas origens, e continuar a soar a jazz? A maioria da música de fusão que conheço atraiçoa de forma intragável a alma das suas convocações. Mas, se, conforme W.Parker explica, existe uma ligação ancestral entre os povos da costa ocidental de África e os da América Central, já que os Olmecas falavam um dialecto mandingo, e tendo o jazz origens afro-americanas, talvez resida aqui a resposta para esta feliz conclusão.
Para ouvir excertos, procurar W.P. aqui , onde se podem encontrar ligações para outros lugares em que se fala desta obra e do seu autor.

sexta-feira, março 14, 2008

Ennio Morricone - O Bom, o Mau e o Vilão



Não tenho dúvidas: A banda sonora do filme de Sergio Leone, "Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo" (1966)é das melhores e mais peculiares de todos os tempos. E ouvi-la sem ver o filme não lhe tira nada, ao passo que o contrário, o filme sem ela perderia muito. Porque se este filme é magnífico, deve-o, sobretudo, ao brilhante realizador Sergio Leone (Roma,1929-1989), à excelente escolha de actores e sua impecável interpretação, e ao compositor Ennio Morricone (Roma,1928-) que conseguiu, nesta banda sonora, utilizar todos, e somente esses, os sons que traduzem as memórias das pradarias do Oeste Americano, dos seus pistoleiros, do Western que nos habituámos a ver desde sempre, na TV e no Cinema, aqui estilizados e eternizados. O mesmo diria do filme em si, já que, sem desperdício, cada uma das suas imagens eterniza e presta homenagem ao velho Western do cinema americano, e de tal forma lhe vai à essência que lembra uma caricatura muito bem esgalhada daquelas que conseguem retratar tudo o que interessa do objecto retratado - nem mais nem menos - somente isso, que é tudo.
Nunca gostei muito de westerns nem tão pouco sou grande apreciadora do estilo musical de Ennio Morricone, mas não tenho dúvidas de que tanto ele como Sergio Leone, para além da sua histórica colaboração, foram, são e serão sempre dois magníficos, cada um no seu género e os dois em conjunto.

sexta-feira, março 07, 2008

Os 60 anos de idade do HCP


O Hot Clube de Portugal festeja os seus 60 anos de idade este ano. Por motivos conjunturais da minha vida, tenho ultimamente andado arredada desse local que constitui um dos poucos de passagem obrigatória, nos meus programas de saídas nocturnas em Lisboa. Sempre gostei do espaço que, embora pequeno e se calhar por isso mesmo, tem tudo a ver com o espírito do jazz. São as memórias dos sons, do espírito e da respiração dos que por lá passaram e passam, músicos ou espectadores que enchem aquela cave e pátio ao ar livre de uma onda intimista e de partilha de uma mesma paixão: O Jazz! A programação é, regra geral, bastante interessante. Ontem, por exemplo, passaram por lá Donny McCaslin (Sax) e George Schuller (Bat).


Para mais informação, consultar o blog Jazz no País do Improviso , de João Moreira dos Santos, ler o seu livro "O Jazz Segundo Villas-Boas", publicado pela Assírio & Alvim, ou ir ao site do HCP .

Longa vida ao Hot Clube de Portugal e à sua Escola!

quinta-feira, março 06, 2008

Prémio Blogger del dia




Está na hora de passar o prémio com que este blog foi distinguido, há uns dias atrás, pelo prezado Tónica Dominante. E se algum blog o merece é o do meu amigo Valkírio, pelo bom gosto, cultura e profunda sensibilidade artística.

segunda-feira, março 03, 2008

Toru Takemitsu (1930-1996)

Já me tinha apercebido, há uns anos atrás, provavelmente através de cds que acompanham algumas revistas de música clássica que habitualmente compro, da importância deste inspirado nativo de Tóquio. Finalmente, decidi avançar um pouco mais na audição da sua obra, e, adquiri um duplo de composições para orquestra, que aconselho a quem tenha curiosidade de o conhecer. E fiquei conquistada. Notam-se, de facto, como Takemitsu, ele próprio, admitia, influências de Debussy, Webern, Schoenberg, Varése, Messiaen e até um pouco de Cage. Mas tudo convertido para algo muito mais melódico, encantatório, sugerindo matizes cromáticas, com mesclas sonoras orientais, que ele usa com muita subtileza e suavidade. O tema "Spirit Garden"(1994), da referida compilação, resume bastante bem o que acabo de escrever.

Autodidacta, começa a compor aos 16 anos, só tendo recebido algumas lições de música aos 18 anos. Ao contrário do que se poderia supor, a sua música tem muito mais influências ocidentais do que orientais, porque dizia que os sons da música tradicional japonesa lhe lembravam a guerra que lhe havia sido tão dolorosa. No entanto, graças a Cage, com quem partilhava filosofias idênticas, (por ex. a noção de silêncio, para Cage, era um plenum ao invés de um vacum, ou o enfâse nos timbres entre cada acontecimento sonoro), e ao seu interesse pela prática Zen, começou a trabalhar na introdução de elementos da cultura japonesa nas suas composições. A peça "November Steps"(1967) é disso exemplo, ao juntar à orquestra dois instrumentos japoneses: o biwa e o shakuhachi de sonoridades em absoluto deslumbrantes, embora os seus sons não se misturem com o resto da orquestra, sendo tocados em alternância com esta. Só mais tarde, e tendo aprofundado entretanto, os seus estudos sobre música japonesa, Takemitsu viria a integrá-los, de facto, no conjunto orquestral (com a peça Autumn - 1973).

Por curiosidade, refiro que Stravinsky, numa sua visita ao Japão, em 1958, descobre, por acaso, Takemitsu, através da audição da peça Requiem para cordas (1957), que muito apreciou, tendo talvez sido indirectamente responsável pelo lançamento deste no mundo cultural ocidental. A água, o mar e, principalmente, os jardins históricos japoneses são os principais motivos de inspiração na obra de Toru Takemitsu, de quem se diz ser o compositor japonês mais conhecido e admirado em todo o mundo.
Para saber mais sobre o cd-duplo, consultar aqui. E o preço é uma óptima surpresa.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Angela Hewitt

Bach - Prelúdio e Fuga em Sol Menor, nr.16 - BWV885


É espantoso, para não dizer, vergonhoso, que em concertos de música clássica não se respeite o silêncio. Sei que nem sempre é fácil evitar espirrar, tossir ou pigarrear, mas é possível (falo por mim) evitar emitir esses sons, com alguma concentração e auto-domínio. Transcrevo aqui as impressões desta fabulosa pianista e cravista canadiana, quando do seu último recital em Portugal. O vídeo não é do citado concerto, nem possuo elementos que me permitam identificar o local ou a data do recital. Quem o colocou no YT não prestou essas informações. Sorry!
Bach in Lisbon (2008-02-14)
I just finished playing my Bach marathons here in Lisbon, Portugal. It was the third time I have performed as part of the Piano Series in the Auditorium of the Gulbenkian Foundation. The large audience was on its feet at the end of Book II. When I started the first concert, the coughing was terrible, and then in the first pause after the fourth Fugue, a man in the audience yelled out something in Portuguese which of course I didn't understand, but for sure everybody heard it! I was later told that he said what I thought he had said: "Stop coughing so we can hear the music!" because after that they were considerably quieter. I hate to go on about that, but it makes such a huge difference not just to how I feel, but to the whole atmosphere in a hall. Silence is golden. A lot of coughing, I am sure, comes from a lack of concentration on the part of the listener. Enough about that. For the first time, I had a few hours to see something of Lisbon and the surrounding area, and the weather was warm and sunny. A quick trip to Sintra and along the coast with friends was very enjoyable. My former piano teacher, Jean-Paul Sevilla, came all the way to Lisbon for these concerts, and I was very happy to have him present in the hall.
(Angela Hewitt - no seu site oficial)

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Herbie Hancock ganha Grammys 2008 - Melhor Álbum


Já se esperava e aconteceu. Ganhou e com mérito, dentro do género - Herbie Hancock, que dispensa apresentações, afirmou-se com a sabedoria de quem está nestas coisas há muito tempo e sempre na linha da frente. Pegou no "cancioneiro" de Joni Mitchell e reformulou-o, com a sua (dela) participação num dos temas - para mim, o melhor do álbum, Tea leaf prophecy-, e participação de outras figuras interessantes (umas mais do que outras) da música popular americana - Tina Turner, Luciana Souza ou Leonard Cohen, por exemplo, ou Corinne Bailey Rae e Norah Jones (enfim...). Acho que foi uma atribuição justa, pelo reconhecimento da incontestável capacidade deste mestre em manter-se estóico guardião de um jazz clássico e, em simultâneo, sem fronteiras. Ratifico.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Kahil El Zabar


Um dos percussionistas e compositores mais presentes nas toadas neo-Africa e de vanguarda do jazz dos nossos dias. Um homem que gere uma música sem fronteiras, quer geográficas, quer temporais. De ritmos melódicos, muito inspiradores para os músicos com quem toca, Kahil é, como se diz, um incontornável para os amantes do jazz evolutivo que busca as suas raízes para, sobre elas, lhe aplicar as fórmulas do todo-o- sempre-e-do-que-mais há-de ser. Porque ouvi-lo é ficarmos a pairar noutros espaços. E não há como fugir ao sortilégio de ouvi-lo com David Murray, Ari Brown, Malachi Favors, Pharoah Sanders, ou Billy Bang.

Nasceu em Chicago, a 11 de Novembro de 1953. Ver mais dados biográficos no seu site.

É dos músicos que actualmente mais me agradam, e que aconselho a quem goste de acompanhar a evolução do jazz e ver as formas que pode assumir.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

SUNDANCE '08 - MY PREMIERE: PATTI SMITH: DREAM OF LIFE



Realizado por Steven Sebring, o documentário Patti Smith: Dream Of Life acaba de ser estreado e premiado no Sundance Film Festival (Utah, E.U.A.). Parece ser uma condigna homenagem à Grande Patti. Espero poder vê-lo um dia destes.

domingo, janeiro 27, 2008

Mose Allison

Mose John Allison Jr. Nasceu em Tippo, Mississippi, E.U.A., em 1927. Influenciado e encorajado pelo seu pai, que tocava piano, stride, Mose, ainda muito jovem, já compunha peças estilo boogie woogie ao piano. Nascido e criado em ambiente rural, ligado à cultura do algodão, Mose assimila os blues rurais, que irão estar sempre, ao longo da sua vida, na base das suas composições. Aos cinco anos de idade já tocava algumas coisas "de ouvido", e as suas principais fontes de inspiração eram Louis Armstrong, Fats Waller, Duke Ellington, Louis Jordan e Nat Cole (King Cole Trio).
Interrompe os seus estudos universitários para ir à tropa, em 1946, tendo tocado na banda das forças armadas e em pequenos grupos que actuavam em clubes de oficiais do exército. Regressa ao velho Missisippi, onde toca piano e trompete e faz arranjos para o grupo de baile, que depressa deixa para formar o seu próprio grupo. Na altura, o seu estilo revela-se muito próximo de Nat Cole, Louis Jordan e Erroll Garner. Depois de um ano em digressão, casa-se e regressa à Universidade, onde, em 1952, finaliza as licenciaturas em Inglês e Filosofia.
Trabalhou em diversos clubes nocturnos, misturando os blues da sua infância com as influências pianísticas modernas de John Lewis, T.Monk e Al Haig, e vocais dos cantores de blues Percy Mayfield e Charles Brown.
Em 1956, emigra para Nova Iorque, onde a cena jazz estava em foco, tocando com diversos grupos, e, em 1957 grava o seu primeiro disco para a Prestige Records, Back Country Suite,

uma colecção de peças evocativas do Delta do Mississipi, unânimemente aclamado pela crítica. Gravou e tocou com outros grandes músicos de jazz, como Stan Getz, Al Cohn, Zoot Sims e Gerry Mulligan e com o seu próprio Mose Allison Trio.
As suas músicas são uma mistura de jazz com blues rústicos. Enquanto pianista, tanto foi um admirador de mestres como Bud Powell e Lenny Tristano, como de compositores como Bartok, Ives, Hindemith e Ruggles. É na fusão destes diversos elementos que se gera a sua música até aos dias de hoje.
Nos anos 60, em Inglaterra, muito apreciado principalmente por músicos da área rock, foi considerado uma referência para muitos grupos que então surgiram, "The Who", "The Yardbirds", John Mayall, por exemplo. E as suas músicas foram e são interpretadas por nomes famosos como Van Morrison, Jack Bruce ou Elvis Costello, entre muitos outros.
Ao longo da sua já longa carreira, Mose tem vários albuns gravados, compôs recentemente a banda sonora do filme "The Score", com Robert DeNiro e Marlon Brando, foi nomeado para um Grammy com o álbum "Mose Chronicles, Live in London, Vol. I" (Blue Note Records), e afirma que continua em busca da perfeição, o que, para os seus fans, há muito foi conseguido.
Por curiosidade, uma filha sua, Amy Allison, também se dedica à música.
Porque falo de Mose Allison? Porque fiquei "presa" do seu álbum de estreia, cuja capa acima reproduzo e onde posso sempre voltar que nunca me desaponta. A minha intenção de colocar aqui as faixas 1 e 4 do dito ficaram goradas, por conta de direitos de autor. O que eu acho é que são "mal agradecidos", porque isto é/seria publicidade de borla. Não preciso de me alongar sobre este assunto, mas há coisas que não fazem muito sentido, nesta luta pela defesa dos citados direitos.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Revista Obscena - Revista de Artes Performativas

Revista de artes performativas, disponível on line, com periodicidade mensal, iniciada em Fevereiro de 2007, a Obscena é muito interessante e recomenda-se a quem goste de teatro, dança, artes visuais, performance ou de filosofia. Tem um grafismo muito agradável, permite consulta dos números anteriores e a sua impressão e tem versão em inglês.
Até agora tem sido gratuita. Um projecto que merece muitos aplausos.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Ben Allison


Músico a ter em muita conta nos nossos dias de jazz, Ben Allison, contrabaixista e compositor, acaba de publicar mais um álbum na sua editora habitual, a "Palmetto Records" - "Little Things Run The World", com os seus acompanhantes do costume, Michael Blake (Sax), Ron Horton (Trompete), Michael Sarin (bateria) e ainda Steve Cardenas (guitarra). Por cortesia da editora, fica aqui o acesso à faixa n.1, Respiration, onde podemos apreciar um jazz refrescante e alegre, de tonalidades rock que, embora não me apaixone, não deixa de ser agradável, bem construído e muito bem executado. Este tema fez, também, parte de um seu álbum anterior, "Buzz".

domingo, janeiro 13, 2008



Uma das maiores figuras da História do Jazz. Era inevitável falar sobre ele (ou não fosse um dos meus favoritos...)

ART BLAKEY (1919-1990)
Como muitos músicos de jazz, Art Blakey começou a sua carreira na igreja. Sendo a sua família devota da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Art rapidamente se tornou um mestre tanto no piano como na Bíblia.
Mas a sua carreira como pianista teve uma abrupta e radical interrupção quando o dono do bar onde então tocava - o Democratic Club - em Pittsburgh, lhe ordenou que saltasse do piano para a bateria.
Art, ainda adolescente, viu o seu lugar de pianista ser-lhe usurpado pelo então ainda muito jovem Erroll Garner, tão talhado para o piano como Art viria mais tarde a sê-lo para a bateria. Esta reviravolta na sua carreira foi uma benção para Art, que, durante seis décadas, viria a influenciar e impulsionar a carreira de inúmeros outros músicos de jazz.
Enquanto jovem, Art actuou sob a tutela do legendário baterista e director de orquestra, Chick Webb. Em 1937, Art regressou a Pittsburgh, formando a sua própria banda, ao lado da pianista Mary Lou Williams, sob cujo nome a banda actuou.
Em 1939, encetou uma digressão de três anos com Fletcher Henderson. Depois de um ano em Boston, no Tic Toc Club, juntou-se ao grande Billy Eckstine, tendo actuado, entre outros, com Charlie Parker, Dizzy Gillespie e Sarah Vaughan.
Em 1948, Art disse aos repórteres que tinha visitado África, onde aprendeu percussão polirítmica e foi apresentado ao islamismo, assumindo o nome de Abdullah Ibn Buhaina. Em finais dos anos 40, Art cria a sua primeira formação dos Jazz Messengers, uma banda de 17 elementos.
Após uma breve actuação com Buddy DeFranco, Art junta-se, em 1954, ao pianista Horace Silver, ao altoista Lou Donaldson, ao trompetista Clifford Brown e ao contrabaixista Curly Russell, e gravam um "live" at Birdland, para a Blue Note Records. No ano seguinte, Art e Horace Silver fundam o quinteto que será os Jazz Messengers. Em 1956, Horace Silver deixa o grupo para formar o seu próprio, ficando os Jazz Messengers para Art Blakey.
A sua batida vigorosa e enérgica, de ritmo quase tribal, com constante utilização dos pratos superiores da bateria, era facilmente identificável e permaneceu uma constante ao longo dos seus 35 anos de Jazz Messengers. O que mudava era o incontável número de músicos talentosos que com ele tocaram, muitos dos quais sairam dali para formarem os seus próprios grupos de jazz.
Nos primeiros anos, figuras como Clifford Brown, Hank Mobley e Jackie McLean integraram a banda. Em 1959, o saxofonista tenor Benny Golson juntou-se ao quinteto, tendo recrutado o que permaneceria uma das formações mais duradouras dos Jazz Messengers: O saxofonista Wayne Shorter, o trompetista Lee Morgan, o pianista Bobby Timmons e o baixista Jymmie Merritt.
Os temas produzidos entre 1957 e princípios dos anos sessenta tornaram-se imagem de marca dos Messengers - incluindo "Moanin" de Timmons, "Along came Betty" e "Blues March" de Golson e "Ping Pong" de Shorter.
Por esta altura, os Messengers eram um grupo incontornável nos circuitos de jazz e começaram a gravar para a Blue Note Records. Encetaram tournées pela Europa, com algumas escapadelas até África e tornaram-se o primeiro grupo americano de jazz a tocar no Japão, para audiências japonesas. Esta primeira digressão pelo Japão constituiu um ponto alto na vida do grupo. No aeroporto de Tóquio, o grupo foi saudado por centenas de fans, enquanto se ouvia "Blues March" nos altifalantes e a sua visita foi difundida pela televisão nacional.
Em 1961, o trombonista Curtis Fuller transformou os Messengers num sexteto, dando-lhes um formato que lhes permitia incorporar o som de uma orquestra no seu repertório hard-bop. Ao longo dos anos 60, os Messengers permaneceram na crista da onda nos circuitos do jazz, integrando grandes nomes,tais como Cedar Walton, Chuck Mangione, Keith Jarrett, Reggie Workman, Lucky Thompson e John Hicks. Na década seguinte, mantiveram a sua força, com menos gravações mas não menos energia.
Numa altura em que muitos músicos de jazz se viravam para experiências electrónicas e de fusão com a Pop, os Messengers mantiveram-se fiéis ao jazz puro.
Esta postura de fidelidade ao purismo deixara Art em posição de vantagem quando do ressurgimento do gosto pelo jazz nos anos 80. Trabalhou com o trompetista Valery Ponomarev, o sax tenor Billy Pierce, o sax alto Bobby Watson e o pianista James Williams. A entrada do trompetista Wynton Marsalis em cena, em 1980, teve também um papel de não menos importância neste ressurgimento.
Ao longo dos anos 80, e até à sua morte, em 1990, Art manteve a integridade do projecto, continuando a revelar músicos como os trompetistas Wallace Rooney e Terence Blanchard, pianistas como Mulgrew Miller e Donald Brown, baixistas como Peter Washington e Lonnie Plaxico, entre outros.
Art morreu aos 71 anos, depois de uma carreira que percorreu seis das melhores décadas do jazz, permanecendo para sempre na memória de todos os que com ele trabalharam, como uma enorme energia inspiradora, tendo influenciado, motivado e impulsionado muitos dos maiores músicos da actualidade.
(Do "Album of the Year"1981,MCA Records, a faixa "In case you missed it" (Robert Watson), com Art Blakey na bateria, Winton Marsalis no trompete, Bill Pierce no sax tenor, Robert Watson no sax alto, James Williams no piano e Charles Fambrough no baixo) .
Da dúzia de albuns que possuo liderados por este mestre, a escolha foi difícil e embora não mostre Art na sua pujança inicial, principalmente nos anos 50 e 60 do século passado, é um dos que mais me agrada pela qualidade e homogeneidade de todo o grupo e pelos temas escolhidos. Gostaria de ter colocado aqui outras faixas do mesmo, tais como "Ms.B.C.", composta pela mulher de Robert Watson, Pamela Watson em homenagem a Betty Carter, ou "Soulful Mister Timmons", de James Williams, em homenagem ao exMessengers Bobby Timmons , grande pianista e compositor de alguns dos temas mais famosos dos Jazz Messengers (ver link), mas, por motivos óbvios, fico-me pela sugestão. A não perder também a interpretação de Art no tema de Dizzy Gillespie, "A night in Tunisia", no album "Theory of Art"(1957) - os primeiros dois minutos são um absoluto exemplo do que era, realmente, a arte de Blakey, e a entrada dos sopros em cena é qualquer coisa de extraordinário.

terça-feira, janeiro 08, 2008

E a frase do dia é:

No capacete de um soldado
fizeram ninho aquelas pombas:

toda a paixão que tem por Marte
eis como Vénus a demonstra

(in Fragmento 36 de Petrónio (Séc. I) tradução de David Mourão Ferreira)

sábado, janeiro 05, 2008

Anthony & The Johnsons - "My Lady Story"

Impossível não se gostar desta voz. Impossível ficar-se apático perante estes sons que nos invadem directamente o coração sem passar pelos filtros cérebro-auditivos. Não é Jazz, não é erudição, é coração. Este rapaz, de quem já há mais de um ano possuo o CD "I am a Bird Now", conquistou-me à primeira. E como o You Tube tem tudo, também lá o encontrei. Fica aqui o meu reconhecimento.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

IT AIN'T NECESSARILY SO...Jascha Heifetz version

Já agora, e porque sou fan de Heifetz, a sua versão do dito tema de Gershwin, enfim, isto é só para começar o ano em beleza. Feliz Ano Novo! a todos os que por aqui passarem. Happy New Year, para o universo, extraterrestres incluídos.
Para mim, Rondò Capriccioso para violino e orquestra, de Camille Saint-Saëns, nunca viu melhor interpretação que por este que foi considerado por muitos, o maior violinista do Séc.XX. Aqui no filme They shall have music (1939).