Logo às 19h45, no canal de tv Arte, um documentário sobre Boris Vian. Vou tentar não perder. A 23 de Junho próximo, terão decorrido 50 anos sobre a sua morte. Por acaso ainda há pouco o tinha recordado pela leitura de um artigo publicado na revista "os meus livros", escrito por Luis C. Marinha, de que tomo a liberdade de transcrever um excerto de excertos autobiográficos desta figura de culto francesa ("Boris Vian en Verve"): nascera 39 anos antes, "no dia 20 de Março de 1920, à porta da maternidade encerrada por causa de uma greve", na localidade francesa de Ville-d'Avray, Hauts-de-Seine, filho de Yvonne Ravenez e Paul Vian. "A minha mãe, grávida das obras de Paul Claudel - é desde essa altura que não o suporto - estava no final do seu 13º. mês de gestação e não podia esperar pela resolução do diferendo. Um santo homem, padre , que passava por acaso, pegou em mim e confortou-me: disse-me que eu era realmente disforme (data dessa altura a minha fobia aos incensórios). Por sorte, uma loba afamada, que acabara de dar à luz Pierre Herve, tomou-me sob a sua guarda e deu-me de beber. Cresci em força e sabedoria, mas nunca deixei de ser feio e disforme embora ornado de um sistema piloso descontínuo mas bastante desenvolvido. Na verdade, eu tinha a cabeça da Vitória de Samotrácia."
Enquanto escrevo isto, ouço o único cd que tenho de Boris Vian, que, como se sabe, tocava trompete de bolso ("trompinette c'est une petite trompette") nos bares de jazz parisienses, tendo inclusivé tocado com o Quinteto do Hot Club de France. Uma compilação que dá uma ideia da sua actividade musical entre 1936 e 1944 - Boris Vian et le Jazz français. Mas Boris Vian ficou famoso mais por aquilo que escreveu, como "A Espuma dos Dias", "As Formigas", ou o poema "O Desertor", do que pela sua vertente jazzística. E também muito pela sua vida de boémia "intelectual" na Paris existencialista. Tudo a rever num documentário que se preze. Logo ao jantar.