segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Billie Holiday (1915-1959)


Já aqui coloquei um vídeo em tempos sobre Billie Holiday, ou Eleanora Fagan, mas sem lhe adicionar grandes palavras, porque a emoção de a ouvir deixa-me, quase sempre, meio "apanhada do clima". Como disse Boris Vian: "On aime ou n'aime pas Billie Holiday, mais quand on l'aime, c'est a l'a façon d'un poison". Mas, depois de ler sobre ela na revista francesa Jazzman (nº.153) do mês passado, de onde extraí esta citação, vou mesmo dedicar-lhe mais um apontamento. Destas leituras recentes fiquei a saber umas coisas mais que outras leituras, como por exemplo, a da sua autobiografia Lady Sings the Blues, me não tinham transmitido. Fiquei a saber que os seus pais nunca se casaram, ao contrário do que ela afirmava, e que, quando ela nasceu, a sua mãe, Sadie Fagan, não tinha 13 anos nem o seu pai, Clarence Holiday, 16, mas sim 19 anos, ela e 17, ele. Não é que isso tenha muita importância, apenas que andei a aldrabar algumas pessoas sem o saber. Inclusivé, estava convencida de que existia uma grande cumplicidade entre mãe e filha, o que também parece não ser totalmente verdade. Ao que parece, muito da infelicidade de Billie foi consequência da frieza e desapego com que a mãe a tratou enquanto criança. Vindo depois a mostrar-se possessiva, demasiado presente e negligente, tornou-se, apesar de tudo, na única pessoa que verdadeiramente contava na sua vida (sic Jazzman). O tema que compôs inspirado em sua mãe, God Bless the Child , reflecte, afinal, essa noção de abandono que a acompanhou até ao fim da vida.

Não vou traduzir aqui o artigo que a dita revista francesa lhe dedicou, mas vale a pena aceder à sua leitura. Está muito bem elaborado e acrescenta algumas coisas que interessam a quem gosta de ir um pouco além na percepção do que foi esta extraordinária cantora. Porque aquilo de que gostamos acaba por ser o produto final de uma vida de abusos, sofrimento, vício, onde a felicidade parecia só comparecer em palco, quando cantava para o seu público. Não sabia ler música, mas tinha um sentido rítmico e uma memória formidáveis. Faz em Julho deste ano 50 anos que morreu. Tinha apenas 44 anos e um passado de prostituição, droga, prisão e relações falhadas.

Esta homenagem da Jazzman está excelente e, repito, vale a pena lê-la para perceber como uma voz pode reflectir, não apenas um dom e técnica, mas toda uma vida que desceu aos mais profundos abismos para alcançar a eternidade.

8 comentários:

Paulo disse...

Sabes como eu gosto de Billie. Obrigado pelas informações que aqui deixas.

CigarraJazz disse...

Tinha de ser. Billie ressurgirá sempre, por mais voltas que se dê.

Obrigada, Paulo.

Bjs.

P.s. Já coloquei o apóstrofo...tnks.

Il Dissoluto Punito disse...

Acaso tem a possibilidade de digitalizar ou transcrever o dito artigo? Estou muito interessado nele!
Obrigado,
JGA

CigarraJazz disse...

Caro Dissoluto,

São 20 páginas, que equivalem a algumas 30 ou 40 folhas A4. Além de que não sei se saio incólume da violação de direitos de autor.
Vou pensar numa solução e depois lhe direi.
Mas o ideal seria adquirir um exemplar da revista. Olhe que vale a pena.

Cumprimentos.

2007friend disse...

Obrigada Cigarra, uma vida cheia, que deixou ao mundo uma obra belissima, que bom é ouvir BILLIE.
BJ

Ana Oliveira disse...

Para mim, musica é musica, voz é voz...e poucas vezes faço a ligação com o compositor ou cantor...uma falha minha que certamente nunca mudará! (Com raras excepções, como a Piaff por exemplo)
Por isso é bom, de repente, perceber que por detrás de uma voz de eleição está uma história, uma vivência, que terá certamente modulado a sua forma de interpretar.
Obrigada por teres acrescentado um pouco mais de sabor ao apreço que sentia por esta Senhora.

Boa Semana

Beijos

Ana

CigarraJazz disse...

2007friend,

Nestas coisas de sentir a música, há, pelo menos, duas grandes ordens de ideias: Ou atinge primeiro o nosso sentido estético, ou nos invade de emoção. Billie pertence a este último, está claro. E nós sentimos a sua força, a sua fragilidade, a sua decadência e a sua sensualidade. Inesquecível.
Sim, nós sabemos (isto lembra-me qualquer coisa...)!

Beijos e que o Sol venha depressa.

CigarraJazz disse...

Ana,

Nem mais: Edith Piaff. Na vida e na voz (como expressão da vida), não podia mencionar-se cantora que mais se assemelhe a Billie.
E não te preocupes que isso é memória selectiva: Vê se não fixaste o nome destas duas Senhoras?
Obrigada e boa semana também para ti.

Beijos